Proclamação da
República do Brasil
A Proclamação
da República Brasileira foi um levante político-militar ocorrido
em 15 de novembro de 1889 que instaurou a forma republicana federativa
presidencialista do Brasil, derrubando a monarquia constitucional
parlamentarista do império do Brasil e, por conseguinte, pondo fim a soberania
do imperador D. Pedro II. Foi então, proclamada a República do Brasil.
A
proclamação ocorreu na Praça da Aclamação (atual Praça da República), na cidade
do Rio de Janeiro, então capital do império do Brasil, quando um grupo de
militares do exército brasileiro, liderados pelo marechal Manuel Deodoro da
Folnseca, destituiu o imperador e assumiu o poder no país.
Foi
instituído, naquele mesmo dia 15, um governo provisório republicano. Faziam
parte, desse governo, organizado na noite de 15 de novembro de 1889, o marechal
Deodoro da Fonseca como presidente da república e chefe do Governo Provisório;
o marechal Floriano Peixoto como vice-presidente; como ministros, Benjamim
Constant Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiuva, RuiBarbosa, Campos Sales,
Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk, todos
membros regulares da maçonaria brasileira.
Situação política do Brasil em 1889
O
governo imperial, através do 37º e último gabinete ministerial, empossado em 7
de junho de 1889, sob o comando do presidente
do Conselho de Ministros do Império, Afonso Celso de
Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto,
do Partido Liberal,
percebendo a difícil situação política em que se encontrava, apresentou, em uma
última e desesperada tentativa de salvar o império,
à Câmara-Geral, câmara dos
deputados, um programa de reformas políticas do qual
constavam, entre outras, as medidas seguintes: maior autonomia administrativa
para as províncias, liberdade de voto, liberdade de ensino, redução das
prerrogativas do Conselho de Estado e
mandatos não vitalícios para
o Senado Federal.
As propostas do Visconde de Ouro Preto visavam a preservar o regime monárquico
no país, mas foram vetadas pela maioria dos deputados de tendência conservadora
que controlava a Câmara Geral. No dia 15 de novembro de 1889, a república era
proclamada.
Perda de Prestígio da Monarquia Brasileira
Muitos
foram os fatores que levaram o Império a
perder o apoio de suas bases econômicas, militares e sociais.
Da parte dos grupos conservadores pelos
sérios atritos com a Igreja Católica (na
"Questão Religiosa");
pela perda do apoio político dos grandes fazendeiros em virtude da abolição da
escravatura, ocorrida em 1888, sem a indenização dos
proprietários de escravos.
Da
parte dos grupos progressistas, havia a crítica que a monarquia mantivera, até
muito tarde, a escravidão no país. Os progressistas criticavam, também, a
ausência de iniciativas com vistas ao desenvolvimento do país fosse econômico, político ou social,
a manutenção de um regime político de castas e
o voto censitário,
isto é, com base na renda anual das pessoas, a ausência de um sistema
de ensinouniversal, os altos índices de analfabetismo e
de miséria e o
afastamento político do Brasil em relação a todos demais países do continente,
que eram republicanos.
Assim,
ao mesmo tempo em que a legitimidade imperial decaía, a proposta republicana -
percebida como significando o progresso social - ganhava espaço. Entretanto, é
importante notar que a legitimidade do Imperador era distinta da do regime
imperial: Enquanto, por um lado, a população, de modo geral, respeitava e
gostava de dom Pedro II, por outro lado, tinha cada vez em menor conta o
próprio império. Nesse sentido, era voz corrente, na época, que não haveria um
terceiro reinado, ou seja, a monarquia não continuaria a existir após o
falecimento de dom Pedro II, seja devido à falta de legitimidade do próprio
regime monárquico, seja devido ao repúdio público ao príncipe consorte,
marido da princesa Isabel,
o francês Conde D'Eu.
O conde tinha fama de arrogante, não ouvia bem, falava com sotaque francês e,
além de tudo, era dono de cortiços no
Rio, pelos quais cobrava aluguéis exorbitantes de gente pobre. Temia-se que,
quando Isabel subisse ao trono, ele viesse a ser o governante de fato do
Brasil.[1]
Embora
a frase de Aristides Lobo (jornalista
e líder republicano paulista, depois feito ministro do governo provisório),
"O povo assistiu bestializado" à proclamação da república, tenha
entrado para a história, pesquisas históricas, mais recentes, têm dado outra
versão à aceitação da república entre o povo brasileiro. É o caso da tese
defendida por Maria Tereza Chaves de Mello (A República Consentida,
Editora da FGV, EDUR, 2007), que indica que a república, antes e depois da
proclamação, era vista popularmente como um regime político que traria o
desenvolvimento, em sentido amplo, para o país.
Antecedentes da Proclamação da República
A
partir da década
de 1870, como consequência da Guerra do Paraguai (também
chamada de Guerra da
Tríplice Aliança) (1864-1870),
foi tomando corpo a ideia de alguns setores da elite de alterar o regime
político vigente. Fatores que influenciaram esse movimento:
·
O imperador D.
Pedro II não tinha filhos, apenas filhas. O trono seria ocupado, após a sua
morte, por sua filha mais velha, a princesa
Isabel, casada com um francês, Gastão de
Orléans, Conde d'Eu, o que gerava o receio em
parte da população de que o país fosse governado por um estrangeiro.
·
O fato de os
negros terem ajudado o exército na Guerra do Paraguai e, quando retornaram ao
país, permaneceram como escravos, ou seja, não ganharam a alforria de seus
donos.
Crise econômica
A
crise econômica agravou-se em função das elevadas despesas financeiras geradas
pela Guerra da Tríplice Aliança, cobertas por capitais externos. Os empréstimos
brasileiros elevaram-se de três milhões de libras esterlinas em 1871 para quase
20 milhões em 1889, o que causou uma inflação da ordem de 1,75% ao ano, no
plano interno.[carece de
fontes]
Questão abolicionista
A
questão abolicionista impunha-se desde a abolição do tráfico negreiro em 1850,
encontrando viva resistência entre as elites agrárias tradicionais do país.
Diante das medidas adotadas pelo Império para a gradual extinção do regime
escravista, devido a repercussão da experiência mal sucedida nos Estados
Unidos de libertação geral dos escravos ter levado
aquele país à guerra civil,
essas elites reivindicavam do Estado indenizações proporcionais ao preço total
que haviam pago pelos escravos a serem libertados por lei. Estas indenizações
seriam pagas com empréstimo externo.
Com
a decretação da Lei
Áurea (1888), e ao deixar de indenizar esses
grandes proprietários rurais, o império perdeu o seu último pilar de
sustentação. Chamados de "republicanos de última hora" ou
Republicanos do 13 de Maio, os ex-proprietários de escravos aderiram à causa
republicana, não por causa de um sentimento, mas como uma "vingança"
contra a monarquia.
Na
visão dos progressistas, o Império do Brasil mostrou-se bastante lento na
solução da chamada "Questão Servil", o que, sem dúvida, minou sua
legitimidade ao longo dos anos. Mesmo a adesão dos ex-proprietários de
escravos, que não foram indenizados, à causa republicana, evidencia o quanto o
regime imperial estava atrelado à escravatura.
Assim,
logo após a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, João Maurício
Wanderley, Barão de Cotegipe, o único senador do império que
votou contra o projeto de abolição da escravatura, profetizou:
Qestão religiosa
Desde
o período colonial,
a Igreja Católica,
enquanto instituição, encontrava-se submetida ao estado. Isso se manteve após a
independência e significava, entre outras coisas, que nenhuma ordem do papa
poderia vigorar no Brasil sem que
fosse previamente aprovada pelo imperador (Beneplácito Régio).
Ocorre que, em 1872, Vital Maria
Gonçalves de Oliveira e Antônio de
Macedo Costa, bispos de Olinda e Belém do Pará respectivamente,
resolveram seguir, por conta própria, as ordens do Papa
Pio IX, que excluíam, da igreja, os maçons.
Como membros de alta influência no Brasil monárquico eram maçons (alguns livros
também citam o próprio dom Pedro II como
maçom), a bula não foi ratificada.
Os
bispos se recusaram a obedecer ao imperador, sendo presos. Em 1875, graças à
intervenção do maçom Duque de Caxias,
os bispos receberam o perdão imperial e foram colocados em liberdade. Contudo,
no episódio, a imagem do império desgastou-se junto à Igreja Católica. E este
foi um fator agravante na crise da monarquia, pois o apoio da Igreja Católica à
monarquia sempre foi essencial à subsistência da mesma.
Questão militar
Os
militares do Exército Brasileiro estavam
descontentes com a proibição, imposta pela monarquia, pela qual os seus
oficiais não podiam manifestar-se na imprensa sem uma prévia autorização do Ministro da Guerra.
Os militares não possuíam uma autonomia de tomada de decisão sobre a defesa do
território, estando sujeitos às ordens do imperador e do Gabinete de Ministros,
formado por civis, que se sobrepunham às ordens dos generais. Assim, no
império, a maioria dos ministros da guerra eram civis.
Além
disso, frequentemente os militares do Exército Brasileiro sentiam-se
desprestigiados e desrespeitados. Por um lado, os dirigentes do império eram
civis, cuja seleção era extremamente elitista e cuja formação era bacharelesca,
mas que resultava em postos altamente remunerados e valorizados; por outro
lado, os militares tinham uma seleção mais democrática e uma formação mais
técnica, mas que não resultavam nem em valorização profissional nem em
reconhecimento político, social ou econômico. As promoções na carreira militar
eram difíceis de serem obtidas e eram baseadas em critérios personalistas em
vez de promoções por mérito e antiguidade.
A Guerra do Paraguai,
além de difundir os ideais republicanos, evidenciou aos militares essa
desvalorização da carreira profissional, que se manteve e mesmo acentuou-se
após o fim da guerra. O resultado foi a percepção, da parte dos militares, de
que se sacrificavam por um regime que pouco os consideravam e que dava maior
atenção à Marinha do Brasil.
Atuação dos republicanos e dos positivistas
Durante
a Guerra do Paraguai,
o contato dos militares brasileiros com a realidade dos seus vizinhos
sul-americanos levou-os a refletir sobre a relação existente entre regimes
políticos e problemas sociais. A partir disso, começou a desenvolver-se, tanto
entre os militares de carreira quanto entre os civis convocados para lutar no
conflito, um interesse maior pelo ideal republicano e pelo desenvolvimento
econômico e social brasileiro.
Dessa
forma, não foi casual que a propaganda republicana tenha tido, por marco
inicial, a publicação do manifesto Republicano em
1870 (ano em que terminou a Guerra do Paraguai), seguido pela Convenção de Itu em
1873 e pelo surgimento dos clubes republicanos, que se multiplicaram, a partir
de então, pelos principais centros no país.
Além
disso, vários grupos foram fortemente influenciados pela maçonaria (Deodoro da Fonseca era
maçom, assim como todo seu ministério) e pelo positivismo de Auguste
Comte, especialmente, após 1881, quando surgiu a igreja
Positivista do Brasil. Seus
diretores, Miguel Lemos e Raimundo
Teixeira Mendes, iniciaram uma forte campanha
abolicionista e republicana.
A
propaganda republicana era realizada pelos que, depois, foram chamados de
"republicanos históricos" (em oposição àqueles que se tornaram
republicanos apenas após o 15 de novembro, chamados de "republicanos de 16
de novembro").
As
ideias de muitos dos republicanos eram veiculadas pelo periódico A República.
Segundo alguns pesquisadores, os republicanos dividiam-se em duas correntes
principais:
·
Os
evolucionistas, que admitiam que a proclamação da república era inevitável, não
justificando uma luta armada;
·
Os
revolucionistas, que defendiam a possibilidade de pegar em armas para
conquistá-la, com mobilização popular e com reformas sociais e econômicas.
Embora
houvesse diferenças entre cada um desses grupos no tocante às estratégias
políticas para a implementação da república e também quanto ao conteúdo
substantivo do regime a instituir, a ideia geral, comum aos dois grupos, era a
de que a república deveria ser um regime progressista, contraposto à exausta
monarquia. Dessa forma, a proposta do novo regime revestia-se de um caráter
social revolucionário e não apenas do de uma mera troca dos governantes.
Golpe militar de 15 de novembro de 1889 e a
proclamação da República
No Rio de Janeiro,
os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro
da Fonseca, um monarquista, chefiasse o movimento
revolucionário que substituiria a monarquia pela república.
Depois
de muita insistência dos revolucionários, Deodoro da Fonseca concordou em
liderar o movimento militar.
Segundo
relatos históricos, em 15 de novembro de 1889, comandando algumas centenas de
soldados que se movimentavam pelas ruas da cidade do Rio de
Janeiro, o marechal Deodoro, assim como boa parte dos
militares, pretendia apenas derrubar o então Chefe do Gabinete Imperial
(equivalente a primeiro-ministro),
o Visconde de Ouro
Preto. "Os principais culpados de tudo isso [a
proclamação da República] são o conde
D'Eu e o Visconde de Ouro Preto: o último por
perseguir o Exército e o primeiro por consentir nessa perseguição", diria
mais tarde Deodoro.[1][2]
O golpe
militar, que estava previsto para 20
de novembro de 1889,
teve de ser antecipado. No dia 14, os conspiradores divulgaram o boato de que o
governo havia mandado prender Benjamin
Constant Botelho de Magalhães e Deodoro da Fonseca.
Posteriormente confirmou-se que era mesmo boato. Assim, os revolucionários
anteciparam o golpe de estado, e, na madrugada do dia 15
de novembro, Deodoro dispôs-se a liderar o movimento de tropas
do exército que colocou um fim no regime monárquico no Brasil.
Os
conspiradores dirigiram-se à residência do marechal Deodoro, que estava doente,
com dispneia,[3] e
acabam por convencê-lo a liderar o movimento. Aparentemente decisivo para
Deodoro foi saber que, a partir de 20 de novembro, o novo Presidente do
Conselho de Ministros do Império seria Silveira Martins, um velho rival.
Deodoro e Silveira Martins eram inimigos desde o tempo em que o marechal
servira no Rio Grande do Sul,
quando ambos disputaram as atenções da baronesa do Triunfo, viúva muito bonita
e elegante, que, segundo os relatos da época, preferira Silveira Martins. Desde
então, Silveira Martins não perdia oportunidade para provocar Deodoro da
tribuna do Senado, insinuando que malversava fundos e até contestando sua eficácia
enquanto militar.[1]
Além
disso, o major Frederico Sólon
de Sampaio Ribeiro dissera a Deodoro que
uma suposta ordem de prisão contra ele havia sido expedida, argumento que convenceu
finalmente o velho marechal a proclamar a República no dia 16 e a exilar a
Família Imperial já à noite, de modo a evitar uma eventual comoção popular.[4]
Proclamação da República no Rio de Janeiro (por Georges Scott,
publicado em Le
Monde Illustré, nº 1.708, 21/12/1889).
Convencido
de que seria preso pelo governo imperial, Deodoro saiu de sua residência ao
amanhecer do dia 15 de Novembro, atravessou o Campo
de Santana e, do outro lado do parque, conclamou os
soldados do batalhão ali aquartelado, onde hoje se localiza o Palácio Duque de
Caxias, a se rebelarem contra o governo. Oferecem um cavalo ao marechal, que
nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu e proclamou "Viva a
República!". Depois apeou, atravessou novamente o parque e voltou para a
sua residência. A manifestação prosseguiu com um desfile de tropas pela Rua
Direita, atual rua 1º de Março, até o Paço
Imperial.
Os
revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e
depois o Ministério da
Guerra. Depuseram o Gabinete ministerial e prenderam seu
presidente, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro
Preto.
No
Paço Imperial, o presidente do gabinete (primeiro-ministro), Visconde de Ouro
Preto, havia tentando resistir pedindo ao comandante do destacamento local e
responsável pela segurança do Paço Imperial, general Floriano
Peixoto, que enfrentasse os amotinados, explicando ao
general Floriano Peixoto que havia, no local, tropas legalistas em número
suficiente para derrotar os revoltosos. O Visconde de Ouro Preto lembrou a
Floriano Peixoto que este havia enfrentado tropas bem mais numerosas na Guerra do Paraguai.
Porém, o general Floriano Peixoto recusou-se a obedecer às ordens dadas pelo
Visconde de Ouro Preto e assim justificou sua insubordinação, respondendo ao
Visconde de Ouro Preto:
“
|
Sim, mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente
inimigos e aqui somos todos brasileiros!
|
”
|
Em
seguida, aderindo ao movimento republicano, Floriano Peixoto deu voz de prisão
ao chefe de governo Visconde de Ouro Preto.
O
único ferido no episódio da proclamação da república foi o Barão de Ladário,
que resistiu à ordem de prisão dada pelos amotinados e levou um tiro. Consta
que Deodoro não dirigiu crítica ao Imperador dom
Pedro II e que vacilava em suas palavras. Relatos
dizem que foi uma estratégia para evitar um derramamento de sangue. Sabia-se
que Deodoro da Fonseca estava com o tenente-coronel Benjamin
Constant ao seu lado e que havia alguns líderes
republicanos civis naquele momento.
Na
tarde do mesmo dia 15 de novembro, na Câmara Municipal
do Rio de Janeiro, foi solenemente proclamada a República.
À
noite, na Câmara Municipal do Município Neutro,
o Rio de Janeiro, José do Patrocínio redigiu
a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem
votação. O texto foi para as gráficas de jornais que apoiavam a causa, e, só no
dia seguinte, 16 de novembro,
foi anunciado ao povo a mudança do regime político do Brasil.
Dom
Pedro II, que estava em Petrópolis,
retornou ao Rio de Janeiro. Pensando que o objetivo dos revolucionários era
apenas substituir o Gabinete de Ouro Preto, o Imperador D. Pedro II tentou
ainda organizar outro gabinete ministerial, sob a presidência do conselheiro José Antônio Saraiva.
O imperador, em Petrópolis, foi informado e decidiu descer para a Corte. Ao
saber do golpe de estado, o Imperador reconheceu a queda do Gabinete de Ouro
Preto e procurou anunciar um novo nome para substituir o Visconde de Ouro
Preto. No entanto, como nada fora dito sobre República até então, os
republicanos mais exaltados espalharam o boato de que o Imperador escolhera Gaspar Silveira
Martins, inimigo político de Deodoro da Fonseca desde os
tempos do Rio Grande do Sul,
para ser o novo chefe de governo.[6] Deodoro da Fonseca então
convenceu-se a aderir à causa republicana. O Imperador foi informado disso e,
desiludido, decidiu não oferecer resistência.
No
dia seguinte, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro entregou a dom Pedro
II uma comunicação, cientificando-o da proclamação da república e ordenando sua
partida para a Europa, a fim de
evitar conturbações políticas. A família imperial brasileira exilou-se na
Europa, só lhes sendo permitida a sua volta ao Brasil na década
de 1920.
Diferentes visões sobre a proclamação da república
Proposta de
bandeira criada por Lopes
Trovão,
içada na Câmara
Municipal do Rio de Janeiro por José
do Patrocínio em
15 de novembro de 1889.
Versão
alternativa do projeto de Lopes Trovão, adotado por quatro dias pelo governo
provisório republicano.
Primeira
versão da atual bandeira nacional, inspirada na bandeira do Império, com 21
estrelas, oficializada em 19 de novembro de 1889.
É
possível considerar a legitimidade ou não da república no Brasil por diferentes
ângulos.
Do
ponto de vista do Código Criminal
do Império do Brasil, sancionado em
16 de dezembro de 1830, o crime cometido pelos republicanos foi:
"Artigo
87: Tentar diretamente, e por fatos, destronizar o imperador; privá-lo em todo,
ou em parte da sua autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da
sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se
consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com
trabalho por vinte anos no médio; e por dez anos no mínimo."
O Visconde de Ouro
Preto, deposto em 15 de novembro, entendia que a
proclamação da república fora um erro e que o Segundo
Reinado tinha sido bom, e, assim se expressou em seu
livro "Advento da Ditadura Militar no Brasil":
= |
O
movimento de 15 de novembro de 1889 não foi o primeiro a buscar a república,
embora tenha sido o único efetivamente bem-sucedido, e, segundo algumas
versões, teria contado com apoio tanto das elites nacionais e regionais quanto
da população de um modo geral:
·
Em 1788-1789, a
conspiração denominada Inconfidência Mineira não
buscava apenas a independência,
mas também, a proclamação de uma república na Capitania das Minas Gerais,
seguida de uma série de reformas políticas, econômicas e sociais;
·
Em 1817, através
da Revolução
Pernambucana — único movimento separatista do período
colonial que ultrapassou a fase conspiratória e
atingiu o processo revolucionário de tomada do poder — Pernambuco teve governo
provisório por 75 dias;[7][8]
·
Em 1824, Pernambuco e
outros estados do Nordeste (territórios
que pertenciam outrora àquela província) criaram o movimento independentista
conhecido como Confederação do
Equador, igualmente republicano, considerado a principal
reação contra a tendência absolutista e a política centralizadora do governo de
D. Pedro I;[9]
·
Em 1839, na
esteira da Revolução Farroupilha,
proclamaram-se a República
Rio-grandense e a República Juliana,
respectivamente no Rio
Grande do Sul e em Santa
Catarina.
Proclamação da República em
frente ao Quartel General do Rio de Janeiro.
Embora
se argumente que não houve participação popular no movimento que terminou com o
regime monárquico e implantou a república, o fato é que também não houve
manifestações populares de apoio à monarquia, ao imperador ou de repúdio ao
novo regime.
Alguns
pesquisadores[quem?] argumentam
que, caso a monarquia fosse popular, haveria movimentos contrários à república
em seguida, além da Guerra
de Canudos. Entretanto, segundo outros pesquisadores[quem?],
o que teria ocorrido foi uma crescente conscientização a respeito do novo
regime e sua aprovação pelos mais diferentes setores da sociedade brasileira.
Versão oposta é dada pela pesquisadora, Maria de Lourdes Mônaco Janoti, no
livro Os Subversivos da República, no qual relata o medo que tiveram os
republicanos, nas primeiras décadas da república, em relação a uma possível
restauração da monarquia no Brasil. Maria Janoti mostra também, em seu livro, a
repressão forte, por parte dos republicanos, a toda tentativa de se organizar
grupos políticos monárquicos naquela época.
Neste
sentido, um caso notável de resistência à república foi o do líder abolicionista José do Patrocínio,
que, entre a abolição da escravatura e a proclamação da república, manteve-se
fiel à monarquia, não por uma compreensão das necessidades sociais e políticas
do país, mas, romanticamente, apenas devido a uma dívida de gratidão com a Princesa
Isabel. Aliás, nesse período de aproximadamente dezoito
meses, José do Patrocínio constituiu a chamada "Guarda Negra", que
eram negros alforriados organizados para causar confusões e desordem em
comícios republicanos, além de espancar os participantes de tais comícios.
Em
relação à ausência de participação popular no movimento de 15 de novembro, um
documento que teve grande repercussão foi o artigo de Aristides
Lobo, que fora testemunha ocular da proclamação da
República, no Diário Popular de
São Paulo, em 18 de novembro, no qual dizia:
“
|
A reunião na casa de Deodoro, na noite de 15 de novembro de 1889, foi decidido
que se faria um referendo popular, para que o povo brasileiro aprovasse ou não,
por meio do voto, a república. Porém esse plebiscito só
ocorreu 104 anos depois, determinado pelo artigo segundo do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988.
Segundo
historiadores, a aristocracia cafeeira do oeste paulista e os militares foram
os principais articuladores da queda da monarquia, mas sem uma aliança formal.
Proclamação da República e manutenção do Brasil
como País Unido
Com
a proclamação da república, "segundo todas as probabilidades",
acabaria também o Brasil, pensava, no fim do século XIX, o escritor português Eça de Queirós.
"Daqui a pouco" - acrescentava, numa das suas cartas de Fradique
Mendes, publicadas depois de sua morte sob o título de "Cartas Inéditas
de Fradique Mendes", e transcritas por Gilberto
Freyre em sua obra "Ordem e Progresso":
“
|
“
|
Profecia que de modo algum se realizou. E não se
realizou por lhe ter faltado quase de todo consistência sociológica; ou ter
se baseado apenas numa estreita parassociologia, quando muito, política; e
esta quase inteiramente lógica. Lógica e de gabinete: nem sequer intuitiva no
seu arrojo profético [...] O "coração íntimo" dos brasileiros da
época que se seguiu à proclamação da república, se examinado de perto [...]
haveria de mostrar-lhe que existia entre a gente do Brasil, do Norte ao Sul
do país, uma unidade nacional já tão forte, quanto às crenças, aos costumes,
aos sentimentos, aos jogos, aos brinquedos dessa mesma gente, quase toda ela
de formação patriarcal, católica e ibérica nas predominâncias dos seus
característicos, que não seria com a simples e superficial mudança de regime
político, que aquele conjunto de valores e de constantes de repente se
desmancharia!
Referências
1. ↑ Ir para:a b c Numa sexta-feira de boatos e
agitação, 600 militares se revoltam, saem à rua, e o Brasil entra na era
republicana. VEJA (ed. especial República), 20 de novembro de 1889.
5. Ir para cima↑ OURO PRETO, Visconde de, Advento da ditadura militar no
Brasil, Imprimiere F. Pichon, Paris, 1891
6. Ir para cima↑ Pouco depois, D. Pedro II mudaria de posição, indicando o
conselheiro José Antônio Saraiva em lugar de Silveira Martins. O Conselheiro
Saraiva chegou a enviar uma carta a Deodoro para saber se o marechal o
apoiaria na organização de um novo gabineto do Império, ao que Deodoro
respondeu: "É tarde, a República já está feita e o novo governo constituído"
( V. "A trama da
vitoria". VEJA (edição especial República), 20 de novembro de 1889.
7. Ir para cima↑ Renato Cancian (31 de julho de 2005). «Revolução pernambucana:
República em Pernambuco durou 75 dias». Consultado em 1
de março de 2015.
9. Ir para cima↑ «Confederação do Equador
(1824)». Mundo Educação. Consultado em 21
de julho de 2015.
10. Ir para cima↑ >"FREIRE, Gilberto, Ordem e Progresso,
páginas 180 e 181, Editora Record, 5ª edição
Bibliografia
·
PEIXOTO, Floriano, Floriano
1839-1939, Editora Graphicos Bloch, Rio de Janeiro, 1939.
·
FONSECA, Deodoro, Deodoro e a
Verdade Histórica, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1939.
·
BARBOSA, Rui, Ditadura e
República, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1932.
·
CALMON, A Vida de Dom
Pedro II - O Rei filósofo, Blibioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro,
1975.
·
CAMPOS SALES, Dr. Manuel Ferraz de, Da Propaganda à Presidência, Edição Fac-similar, Senado
Federal, Brasília, 1998.
·
CHAVES DE MELLO, Maria Tereza, A República Consentida, Editora FGV, EDUR, Rio de
Janeiro, 2007.
·
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco, Os Subversivos da República, Editora Brasiliense, São Paulo,
1986.
·
OURO PRETO, Visconde de, A Década Republicana, Editora da UNB, Brasília, 1986.
·
OURO PRETO, Visconde de, Advento da Ditadura Militar no Brasil, Editora Imprimiere
F. Pichon, Paris, 1891.
·
PRADO, Eduardo, Fatos da
Dictadura Militar no Brazil, Editora Revista de Portugal,
1890.
|
FONTE: Wikipédia
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