Manifestação de quinta foi maior e mais tensa que a de segunda
Jovem tenta apagar fogueira no gramado do Congresso
Além do maior número de manifestantes, o ato desta quinta-feira (20) se diferenciou do de segunda (17) pelo perfil dos presentes e pelo acirramento da tensão com as forças de segurança. Na primeira manifestação, que culminou com a subida ao teto do edifício do Congresso, predominaram jovens entre 16 e 22 anos. Ontem, a faixa etária se ampliou: até idosos e crianças estiveram na Esplanada.
Com a expectativa da presença de 50 mil pessoas, foram convocadas várias unidades da Polícia Militar, entre as quais o Batalhão de Choque e a Cavalaria, e de unidades do Exército que permaneceram de prontidão em vias próximas ao Palácio do Planalto. Na segunda, o efetivo não passou de 400 homens da PM. Os policiais se postaram em frente ao espelho d'água em frente ao Congresso e bloquearam ainda a via N1 do Eixo Monumental, impedindo a passagem de grupos em direção ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A barreira em frente ao espelho d'água mostrou-se mais rígida do que na segunda, quando alguns manifestantes conseguiram subir as rampas que dão acesso ao interior e ao topo do prédio principal. Também foram bloqueadas as abas laterais do teto, para impedir a chegada à marquise onde repousam as cúpulas dos plenários do Senado e da Câmara dos Deputados.
Embora a maior parte dos presentes ao gramado tenha mantido uma atitude respeitosa em relação à muralha de policiais, o sentimento expresso em palavras de ordem e refrões era de forte repulsa em relação há vários aspectos da realidade brasileira, como a atuação dos poderes públicos e a qualidade dos serviços prestados à população.
Vidraças
A princípio, o grupo que se postou dentro do lago artificial apenas hostilizou a PM com banhos d'água. Na sequência, porém, passou a lançar fogos de artifício e bombinhas do tipo 'cabeção' em direção ao efetivo de segurança. Em vária tentativas de rompimento do cordão humano, os policiais reagiram com sprays de pimenta e bombas de gás lacrimogênio, ingrediente largamente utilizado para tentar dissolver definitivamente a multidão.
Outros grupos passaram a acender fogueiras no gramado e ocuparam, sob protesto dos companheiros de jornada, o espelho d'água do Itamaraty. Em seguida, invadiram o prédio e quebraram vidraças da obra projetada por Oscar Niemeyer.
Parte das instalações do evento montado para o jogo Brasil X Japão, que foram mantidas no local cinco dias após a partida, sofreu também a ação de manifestantes mais radicais, que incendiaram duas tendas. As vidraças da Catedral tornaram-se igualmente alvo de exaltados, quando a manifestação já se dispersava.
Parte das instalações do evento montado para o jogo Brasil X Japão, que foram mantidas no local cinco dias após a partida, sofreu também a ação de manifestantes mais radicais, que incendiaram duas tendas. As vidraças da Catedral tornaram-se igualmente alvo de exaltados, quando a manifestação já se dispersava.
- Temos de diferenciar aqueles que estão no paraíso daqueles que estão no purgatório. A Catedral representa isso. Nós temos de separar aqueles que badernam das manifestações que são lícitas, são constitucionais - afirmou Pedro Taques (PDT-MT). Ele foi acompanhado em suas críticas pelos senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Magno Malta (PR-ES) e Cristovam Buarque (PDT-DF).
Perto da meia noite, ainda sem a informação sobre o número de presos, os senadores que permaneciam em vigília no Plenário condenaram as depredações e pediram maior envolvimento da presidente Dilma Rousseff nos acontecimentos que há duas semanas, de forma sempre crescente, mobilizam o país. Mas não deixaram de atribuir a fúria dos protestos ao comportamento da classe política.
A manifestação que reuniu mais de 25 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios não impediu que o Senado funcionasse normalmente nesta quinta-feira (20). Ainda pela manhã e já sob a expectativa dos protestos, as comissões se reuniram. À tarde e à noite, senadores se revezaram na tribuna para tratar de assuntos diversos e, principalmente, comentar as manifestações.
Enquanto houve manifestantes no gramado em frente ao Palácio do Congresso, um grupo reduzido de senadores se revezava na tribuna em uma espécie de "vigília" para refletir sobre os protestos que reuniram nesta quinta pelo menos um milhão de pessoas em cerca de 100 cidades.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que este foi um dia histórico para o país. Para Randolfe, o Senado e a Câmara deveriam abrir suas galerias para receber os manifestantes e ouvir suas reivindicações. O senador José Agripino (DEM-RN) afirmou que as manifestações vão se avolumar e que é impossível dizer onde vão terminar.
Na visão do senador Pedro Simon (PMDB-RS), a ausência dos partidos nas manifestações é sinal de repúdio à velha política. Na mesma linha, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou que os protestos são um recado para os políticos de que a população não acredita mais nos partidos e apontam a necessidade de uma reforma política. Para a senadora Ana Amélia (PP-RS), o aspecto mais notável das mobilizações populares que tomam conta do país é que os protestos são realizados sem liderança.
De acordo com o senador Pedro Taques (PDT-MT), os avanços sociais e econômicos dos últimos anos não foram suficientes para fazer com que a população deixasse de depender dos serviços públicos. Avanços na educação e na saúde estão entre os temas das reivindicações das passeatas. O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) ressaltou que a saúde é uma das principais bandeiras de seu mandato e dos protestos.
Senadores Cristovam Buarque, Pedro Simon e Pedro Taques
- Como nos diz o clamor das ruas, mais do que estádios, precisamos de hospitais, de escolas e de profissionais qualificados para atuarem nesses setores vitais para a saúde do nosso povo e a formação de nossa Nação – concluiu.
Humildade
O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que o Parlamento continua “aberto ao povo” e ressaltou que é preciso ter a humildade e a compreensão de que a política tem que se reinventar sempre.
- Acho que a maior demonstração de humildade que o Parlamento pode dar, como casa do povo, é estabelecer uma nova agenda em função das manifestações – concluiu.
O deputado André Vargas (PT-PR), 1º vice-presidente da Câmara, explicou que não foi possível ouvir pessoalmente os pleitos dos manifestantes em razão da dificuldade para identificar seus representantes. Ele reiterou, porém, que o Congresso está aberto ao diálogo com os participantes do protesto.
Muitas bandeiras
Os manifestantes desta quinta-feira – uma multidão três vezes maior que a reunida na última segunda-feira – começaram a chegar em frente ao Congresso Nacional por volta das 17h30. Com cartazes, narizes de palhaço ou máscaras, se expressavam contra a corrupção, os gastos excessivos com a Copa do Mundo e a PEC 37 (que limita o poder do Ministério Público), entre outras bandeiras.
Uma das várias estudantes que esteve no gramado em frente ao Congresso, Natália Diógenes foi à manifestação enrolada em uma bandeira do Brasil. Ela disse estar lá para “lutar pela Nação e tentar mudar o que está errado”.
– O país tem uma economia excelente, mas a população está sofrendo. A educação está cada vez pior, a segurança também – afirmou.
Muitos defendiam causas mais específicas, como Tatiane Novais, que é contra a PEC 33, proposta de emenda à Constituição que submete à avaliação do Congresso determinadas decisões do Supremo Tribunal Federal. Ou a biomédica Bruna Helena, que junto com colegas de profissão criticou o Ato Médico, cujo projeto foi aprovado nesta quarta-feira (19) pelo Senado.
Já Carolina, de 16 anos, fazia parte de um grupo de adolescentes que protestava contra a homofobia e contra o projeto da “cura gay”, que tramita na Câmara, enquanto Maria Luíza Júnior, de 58 anos, criticava “o genocídio da juventude negra no país”.
Para Tatiana Novais, as recentes manifestações fazem parte de uma evolução muito lenta e “boa parte dos manifestantes nem sabe exatamente por que está aqui, mas sabem que querem mudança”.
Houve vários momentos de tensão e focos de violência, como a invasão e o apedrejamento do Palácio do Itamaraty e da Catedral de Brasília, mas a maioria dos manifestantes agiu pacificamente e reagia a qualquer sinal de violência com gritos de “Sem violência!” e “Sem vandalismo!”.
A universitária Lorraine, por exemplo, foi entrevista pela Agência Senado logo após discutir com um rapaz que estava queimando um cone de plástico. Ela disse que o movimento é pacífico e “quem sai queimando as coisas não pode ser chamado de manifestante”.
Agência Senado
Renan: manifestações propõem uma nova agenda para o país
O presidente do Senado, Renan Calheiros, declarou agora há pouco que o Parlamento continua “aberto ao povo”. Ele disse que é preciso ter a humildade e a compreensão de que a política tem que se reinventar sempre.
- Quando a política não se reinventa se desfaz a utopia e nada pode viver sem utopia. Nem a política – afirmou o presidente.
Renan disse que considera fundamental elaborar uma nova agenda para o país, a partir das manifestações − que são legítimas e democráticas.
- Acho que a maior demonstração de humildade que o Parlamento pode dar, como casa do povo, é exatamente estabelecer uma nova agenda em função das manifestações – concluiu.
Agência Senado
Após dia de protestos em todo o país, Dilma terá reunião com ministro da Justiça
Brasília - A presidenta Dilma Rousseff vai se reunir amanhã (21) com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e deverá discutir as manifestações que tomam as ruas do país. A reunião está marcada para as 9h30 no Palácio do Planalto e pode reunir outros ministros do governo.
Dilma cancelou a viagem que faria ao Japão no próximo domingo devido à onda de protestos. Segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, ela preferiu não se ausentar do Brasil por quase uma semana diante do cenário de movimentação popular.
Em um dia marcado por protestos em todo o país, Dilma permaneceu no Palácio do Planalto. O prédio teve a segurança reforçada no começo da noite, depois que manifestantes que estavam no Congresso Nacional tentaram se aproximar da sede do Executivo. Homens do Batalhão de Choque do Exército seguem a postos em torno do edifício.
Dilma deixou o Palácio do Planalto por volta das 20h30, com o esquema de segurança habitual, que inclui batedores e uma unidade de terapia intensiva (UTI) móvel.
As manifestações são acompanhadas no Planalto pela Secretaria-Geral da Presidência, responsável no governo pela articulação com movimentos da sociedade civil. O secretário executivo da pasta, Diogo de Sant’ana, recebeu hoje de manifestantes um documento com reivindicações dirigidas à presidenta Dilma. O grupo pede uma reunião entre o governo e vários grupos que organizam os protestos Brasil afora.
Edição: Fábio Massalli
Agência Brasil
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