BIÓLOGO PARANAPANEMENSE MONITORA ESPÉCIE DE AVES MIGRATÓRIAS

Paulo Henrique Santos Araujo Camargo é formado em biologia, com mestrado em andamento na área de diversidade biológica e conservação (ornitologia) na Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR. Recentemente o biólogo concluiu um trabalho científico realizado no município de Paranapanema, que resultou em 198 espécies de aves catalogadas. Há cerca de um mês Paulo Henrique vem monitorando um bando de aves da espécie “curicacas” (Theristicus caudatus) empoleiradas em uma araucária existente no bosque da Secretaria Municipal de Turismo (Museu Dona Guita). Em uma de suas observações Paulo Henrique conseguiu fotografar 52 aves. Contatado por nossa reportagem, Paulo Henrique fez uma breve explanação sobre a biologia e ecologia da espécie, e sua possível migração ao final na estação chuvosa (março).

INFORMAÇÕES SOBRE A ESPÉCIE

01)- A curicaca (Theristicus caudatus) é uma espécie de ave silvestre da fauna brasileira da família Threskiornithidae, que abriga ainda, colhereiro também presente no município e outras espécies como o guará;

02)- É uma das 198 espécies que identifiquei no nosso município;

03)-Seu nome popular é onomatopéico, semelhante ao som do seu canto, composto de gritos fortes. Conhecida também como despertador (Pantanal), carucaca, curicaca-comum, curicaca-branca e curicava-de-pescoço-branco.

04)- Apresenta coloração clara, asas largas e bico longo e curvo, apresenta o dorso cinzento-claro e com brilho esverdeado, pontas das asas e da cauda são pretas e parte das asas esbranquiçadas. O macho com 69 cm de comprimento e 143 cm de envergadura, geralmente é maior que a fêmea.

05)- Apresentam uma alimentação variada, composta de insetos e larvas, centopéias e pequenos lagartos, ratos, caramujos, insetos, aranhas e outros invertebrados, anfíbios e pequenas cobras.

06)- Seu período reprodutivo, geralmente é de setembro a dezembro podendo se prolongar. Neste sentido, para a ocorrência da reprodução, são de suma importância a seleção do habitat e sítio de nidificação, que ofereçam proteção, abrigo e alimentação aos filhotes. Desta forma, é imprescindível a preservação desses locais, que não são escolhidos ao acaso, mas de acordo com as necessidades ecológicas da espécie. Neste sentido ainda, uma vez que o teoricamente, finalizou recentemente o período reprodutivo, podem existir inúmeros jovens e imaturos que estão utilizando o local como poleiro, eu mesmo consegui observar alguns imaturos, que obrigatoriamente não apresentam as mesmas habilidades que os adultos e por isso apresentam mais necessidades.

07)- Ainda quanto a reprodução,  costumam por de dois a quatro ovos, em ninhos feito em árvores, formando colônias numerosas durante o período.

08)- Vivem geralmente em bandos pequenos ou solitários, podendo fazer bandos enormes no período reprodutivo, como podemos ver nas dependências da secretaria de turismo. Habitam campos secos e alagadas e pastagens se empoleirando em grandes árvores a noite.

09)- Está presente em grande parte do Brasil onde haja vegetação aberta e lagoas, campos em solos pantanosos ou periodicamente alagados. É encontrada também no Panamá e em todos os países da América do Sul.

10)- Com a degradação ambiental, são cada vez mais encontradas em ambientes perturbados e áreas antropizadas.

Intransigente defensor da fauna e da flora, o biólogo Paulo Henrique finalizou a entrevista pontuando alguns tópicos da nossa CARTA MAGNA, que devem ser respeitados, tanto pelo poder público, quanto pelos cidadãos e cidadãs.

Baseado na Constituição Federal de 1988 é dever do governo municipal complementar as ações dos governos, estadual e federal, na preservação do meio ambiente. Desta forma, por tratar-se de uma espécie silvestre da fauna brasileira, este órgão tem como obrigação protegê-la, principalmente neste período em que podem estar se reproduzindo ou com jovens e imaturos presentes na colônia.

O Art. 225 da Constituição Federal diz que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”

Ainda neste sentido, o Parágrafo 1° do artigo acima citado diz: “Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético

(...)

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”.

E ainda, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Já o art. 30 da Constituição Federal diz que: “Art. 30. Compete aos Municípios:

I- legislar sobre assuntos de interesse local;

II- suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Paulo Henrique Santos Araujo Camargo

Biólogo CRBio-01 nº. 089862/01-D

NR: O relevante trabalho voluntário, solitário e anônimo realizado por Paulo Henrique, prioriza estudos de biologia e ecologia das aves, estudos populacionais das espécies e a importância das áreas e ambientes utilizados pelas aves silvestres migratórias. Sua pesquisa foca também a localização das áreas importantes para a sobrevivência dessas aves, bem como as ameaças que esses locais sofrem, visando as ações de conservação necessárias para preserva-las. Com tantas aves migratórias sofrendo um declínio abrupto de suas populações nos últimos anos, nunca foi tão urgente realizar ações de conservação e preservação das espécies. Nesse contexto, o trabalho desenvolvido pelo jovem biólogo merece uma atenção especial das autoridades ambientais do município, e, consequentemente, a adoção de medidas governamentais para a preservação das espécies ameaçadas e de muitas outras que enfrentam grandes desafios para sobreviver.